Segunda-feira, 27 de Março de 2006

Dois monólogos não fazem um diálogo...




É isso mesmo, Diogo! Já devias saber isso há muito tempo. Vives nesse limbo de arame de circo há demasiado tempo para ainda não te teres apercebido disso.

Vives a vida a fugir de ti próprio. Já te disse que o teu maior inimigo és tu próprio quando lutas contra ti mesmo?

Não há grande volta a dar à questão. Não vale a pena tentares lutar por algo que nem tu próprio sabes se queres na realidade. Já te perguntaste o que vais fazer, se o destino não te arrastar para o porto que tu queres?

Vais ser mais um barco à deriva com as velas desfraldadas, à espera que as ondas te guiem o caminho? Vais ser um marinheiro sem rumo, a olhar para as estrelas sem distinguires o Norte do Sul? Vais ser um lobo do mar, a ouvir apenas as gaivotas e o barulho das ondas? Ou vais pegar na quilha e rumar noutra direcção qualquer?

Já há muito tempo que te quero perguntar isso, mas quando estou quase a conseguir criar a atmosfera perfeita, falta-me a coragem para deixar as palavras sair.

Disseste-me uma vez que as palavras têm poder próprio e que uma vez que as pronuncie não vou conseguir apagá-las, nem apagar o seu poder, o seu impacto na vida dos outros. Se calhar é por isso que tenho sempre medo de as dizer. Prefiro falar de coisas banais, sem importância nenhuma. Não corro o risco de cair na armadilha…

Gostava de ser a âncora da tua vida, mas não me vejo com tal. Sei que no fundo do eu ser, também tu gostavas que eu fosse não só a âncora, mas também o porto de abrigo. Não posso fazer isso da minha vida. Não é o meu destino e muito provavelmente não é o teu.

Tiveste a oportunidade de fazer de mim muito mais do que só um cais de embarque. Preferiste sonhar com novos mundos. Deves ter sangue de descobridor português. Numa vida passada, talvez no ano de 1500, viajavas com Pedro Álvares Cabral em direcção ao Brasil.

As caravelas sempre foram a tua paixão. Eu cá gosto mais de rabelos, que navegam nas doces águas do Douro. São mais planos e não enfrentam a turbulência dos grandes mares. Pensas que é cobardia, eu sei! Mas estás enganado. É a doce paixão da quietude e mansidão da água doce, sem pinta de sal.

Gostava de ter mais sangue na guelra, mas não consigo. Não sou feita de mesma massa que tu. Moldaram-me de forma diferente e o forno que me cozeu tinha baixa temperatura. Fui feita com calma, com toda a calma do mundo. A minha mãe, grávida de mim, não tinha nada dessas coisas modernas, chamadas stress e depressão. Tinha paz, amor e tranquilidade, no coração.

Sim, eu sei que 9 meses é pouco tempo para fazer uma pessoa como tu, mas para mim foi suficiente. Cresci na tranquilidade da alma daquela que me amava e que ansiava, mas de forma positiva, ver-me nascer. Cresci na imensidão dos campos da minha infância. Físicos ou irreais, foram os campos que me alimentaram tanto física como espiritualmente. Cresci na sombra das árvores, essencialmente macieiras. Desenvolvi-me aí, em todos os aspectos da minha vida.

E isso fez de mim alguém que procura a tranquilidade das águas calmas, do leito de um rio não muito grande. Gosto de coisas intimistas. Essa paz levou-me a muitos sítios escondidos dos outros e de mim mesma. Fez-me sonhar e imaginar que no fim do arco-íris havia sempre um tesouro que eu iria descobrir. Fez-me sonhar com o príncipe encantado, montado num cavalo cinzento, porque branco não gosto. Os alazões cinzentos são muito mais bonitos. Até na cor do cavalo, eu tinha que ser diferente…

Fez-me viajar até novos mundos, que não sabia que existiam e tinha medo de descobrir. Também eu já fui o Viajante, aquele que tu vês nas raras ocasiões em que olhas para as cartas. Aquele que também tu já foste e que continua a aparecer no meu baralho de cada vez que o corto e te procuro, num futuro não muito longínquo do presente que não quero, mas tenho de viver.

Prefiro a solidão do meu mundo, à balbúrdia do teu. Vives demasiado ocupado com coisas banais e o ruído à tua volta sufoca-me mais que a falta de ar dos meus próprios pulmões, que tenho quando fumo mais um cigarro.

Continuo a falar sozinha apenas para este blog e para os poucos que me visitam, de cada vez que acrescento mais uma pena à minha asa que se perdeu. Não estranhes o nome que te dou, mas foi por esse mesmo nome que te conheci, há alguns anos atrás, noutra fase da vida, também ela povoada de ruídos dos mais diversos tipos.

É por isso que te digo, Diogo, dois monólogos não fazem um diálogo. E nós nunca o tivemos. Dançámos juntos algumas vezes, mas mesmo assim, nunca ouvimos a Alma do Mundo só os dois.

 

 

Sinto-me:

Quarta-feira, 15 de Março de 2006

Envelhecer




Mais uma viagem de autocarro, mais um produto para este blog.

Passo a explicar, vinha eu descansada para casa, no meu adorado autocarro nº 4, quando de repente sucede mais um daqueles episódios que resultam em post para este blog. A meio da viagem uma senhora começa a gritar que tocou e o motorista não parou na paragem pretendida. Mas a senhora repetiu aquilo, sem exagero, uma dúzia de vezes. “Eu toquei, eu toquei, eu toquei, daqui a pouco estamos em Celas” reprodução fiel das palavras dela. E o motorista pede desculpa e pára imediatamente para a senhora sair. Mas ela não contente com isso, repete e repete e repete, até que por fim lá se põe a pé e sai calmamente do autocarro.

Mais um episódio de vida comum, do quotidiano dos utilizadores dos SMTUC. Mas é também um daqueles episódios que me faz reflectir sobre a vida e as pessoas.

Fez-me reflectir sobre qual seria a minha atitude nessa situação, porque achei demasiado exagerada a repetição de lamentos da dita senhora. E cheguei à conclusão de que há bom envelhecer e mau envelhecer. Ou seja, essa mesma senhora tinha já alguma idade e com certeza bastantes motivos para se queixar, mas outras senhoras há que nessa situação teriam dito algo mais “leve”. Isto é, poderiam reclamar da situação de forma menos repetida e menos abrasiva.

O que me leva ao bom envelhecer e mau envelhecer. Se há pessoas que estão ressabiadas com a vida e reclamam daquilo a que têm direito e daquilo a que não têm direito, também há aquelas que se riem das situações mais ridículas e incómodas. Tudo depende daquilo que lhes vai no âmago do seu ser. (Hoje é mais um daqueles dias em que estou prolífera em palavras…)

E isto leva-me a uma mais uma daquelas conversas produtivas que vou tendo com as pessoas que gosto. Eu explico! Há uns dias atrás talvez também eu tivesse sido bruta e até mesmo agressiva se tivesse passado por uma situação semelhante. Mas em dias como hoje duvido que tivesse tido uma atitude semelhante.

Cheguei à conclusão, a partir do episódio de hoje e da conversa de Sábado, de que ando a envelhecer mal. O que no meu caso, não é nada desculpável… Com a módica quantia de 22 anitos, não é caso para envelhecer pessimamente desta maneira.

Como eu própria dizia no Sábado, tornei-me cínica perante o amor, mas pior que tudo é que me ando a tornar cínica perante a vida. E cheguei a essa conclusão só no Sábado. Deixei de acreditar na bondade das pessoas, há já alguns anos atrás. Mas além disso, deixei também de confiar nos outros, mesmo em alguns que conheço há algum tempo.

Deixei acreditar que o Mundo é um lugar maravilhoso para se morar e que se hoje chove, amanhã vai estar sol. Acho que me tornei demasiado adulta em poucos anos de vida. Posso ter adquirido alguma experiência e talvez até alguma sabedoria (o que pessoalmente acho difícil, mas bem!), mas o mais grave da situação é que perdi o meu espírito de criança. Aquele que nos faz maravilhar com cada pequena coisa boa que nos acontece no dia-a-dia, aquele que nos permite sonhar. E há quanto tempo que eu deixei de ter sonhos… nem digo nada!

Não é que com isto e com o facto de o reconhecer o tenha readquirido. É um processo lento, moroso e extremamente complicado. Quando já se viu muita coisa e se sofreu muito, é difícil voltar a acreditar que a vida é fantástica, deliciosa e algo de extraordinário. Mas ando a tentar!

Tenho saudades de ser feliz, verdadeiramente feliz. De me rir com vontade e fazer asneiras como senão houvesse amanhã. Mas felizmente conheço algumas pessoas que de vez em quando me lembram que isso é possível e que me tentam abrir os olhos.

Tenho de aprender a viver um dia de cada vez e como se de facto pudesse mesmo ser o ultimo… nunca se sabe quando a morte nos pode bater à porta. E tenho tanta coisa para fazer até lá…

 

Mas aliviando um bocado o tema, é só para dizer que como já devem ter reparado isto mudou de sitio, ou seja, já migrei para a nova plataforma de blogs da Sapo, muito embora discorde completamente disto tudo que a Sapo está a fazer. Eu cá gosto é das coisas à antiga e acho muito mal que apaguem os blogs antigos. Mas como mulher remediada vale por duas, optei por discordar mas migara à mesma.

Tenho ainda a acrescentar que na Quarta à tarde fui apresentar oficialmente o meu blog, sim este mesmo que vocês estão a ler neste momento, na minha querida faculdade. E ainda pró cima tive direito a um lanchinho à borla, muito bom que estava! (Acho que a palavra lanchinho não existe, mas é tão típica e pitoresca que mesmo sendo erro resolvi deixar ficar. O correcto é lanchezinho, mas soa tão mal, não é nada português!) Não disse nada de jeito quando me perguntaram sobre o que falava, mas se lerem é muito melhor. Também nunca tive muito jeito para falar, anyway! O que eu gosto mesmo é de escrever…

Já agora aproveito para dizer que a VIII Semana Cultural da Universidade de Coimbra foi um sucesso e que adorei. Acho fantástica a ideia de abrir a Universidade uma semana para toda a gente, mas detestei o trabalho todo que tive. Mas no fim soube muito bem! Adoro estudar em Coimbra e pertencer à FPCEUC.

Afinal de contas, envelhecer em Coimbra é bom! O álcool conversava-nos…

 

 

Sinto-me:

Soprado por: Asa às 17:56
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Quarta-feira, 8 de Março de 2006

As duas partes

Duas partes.JPG

Hoje à noite dei por mim a pensar que parece que o Mundo e as pessoas se dividem continuamente em duas partes.

Por exemplo: Ocidente e Oriente, hemisfério Norte e hemisfério Sul, homens e mulheres, bons e maus, rígidos e liberais, perto e longe, direita e esquerda, normais e anormais, pais e mães, cima e baixo, preto e branco, frente e trás, som e silêncio, dia e noite, fumadores e não-fumadores, eu e tu; e por aí fora… Poderia estar aqui a noite inteira a digitar opostos ou antónimos, como preferirem, e iria encontrar muitos mais.

Estou a ver aqui um padrão! Ou seja, quer-me parecer que na maior parte das coisas só existem dois pontos de vista verdadeiramente distintos. Reconhece-se que às vezes possa haver o meio termo, mas aparentemente temos tendência a esquecermo-nos dele.

Parece que as coisas são assim ou assado. Ou as vemos segundo o meu ponto de vista ou segundo o teu. Não à volta a dar à coisa…

Como me diria a M., cada vez nos centramos mais na nossa maneira de ver as coisas e esquecemo-nos que para lá disto há sempre algo mais, quanto mais não seja porque não somos só nós que estamos directamente envolvidos nessa “coisa”.

A propósito, ando a citar muito os meus amigos e amigas, quem quiser pode tentar cobrar direitos de autor. Ou isso, ou sentir-se lisonjeado pelo facto de me lembrar tanto de vocês e daquilo que falo convosco e por serem uma fonte de inspiração para a escrita deste blog.

E hoje mais uma vez me disseram que “Há pessoas como tu e pessoas como eu!”, e eu fiquei a pensar se será assim tão simples e o mundo se divide apenas em dois. É certo que eu sou mulher e quem me disse isso é homem e nessa divisão há pouco a acrescentar, talvez o conceito de hermafrodita, não sei! Mas será que não há sequer a hipótese das pessoas serem diferentes de mim e de ti?

Não dás sequer o benefício da dúvida de que pode haver algo mais do que isso? Quer-me parecer que caso não o dês o mundo é demasiado simplista e não há grande espaço para a diversidade. Seja ela de géneros, espécies ou problemas.

E vemos que as coisas não são bem assim… O que não falta neste mundo é a diversidade e complexidade das coisas, até porque quando não existe, nós pura e simplesmente inventamos. Temos uma tendência nata para a complexidade e diversidade das coisas a que tendencialmente chamamos de criatividade. E quantas vezes não nos queixamos nós de falta de criatividade? Vivemos numa sociedade em que inovar é a palavra de ordem. É preciso criar algo de novo a cada segundo. Como se isso fosse possível! Ou já se esqueceram da célebre frase de Lavoisier “Nada se perde, nada se cria, tudo se transforma.”, que deu origem a Lei da Conservação da Massa da química moderna? Limitamo-nos a modificar aquilo que já existe. Damos-lhe um novo nome, uma nova roupa e achamos que inventámos todo um novo conceito.

E a tua frase dita assim, pareceu-me demasiado simplista. Pareceu-me que te esqueceste que o mundo não se divide só em duas partes, divide-se naquelas que a gente quiser.

Se calhar és tu que tens razão e sou eu que quero viver na ilusão de que há muitas divisões de muitas coisas e que a diversidade faz parte da vida. Se calhar és tu que estás certo quando dizes “Há pessoas como tu e há pessoas como eu!”, mas EU recuso-me a acreditar nisso.

Para mim há pessoas como tu, como eu, como a M., como a R., como a J., como o N., como o Z., como o P., e por aí fora… Há pessoas que gostam do dia, outras da noite, outras do amanhecer, outras do entardecer, outras da madrugada, outras da manhã, outras da tarde e ainda outras do crepúsculo. Há pessoas que gostam de cima, outras de baixo e outras dos lados. Há pessoas que gostam do preto, outras do branco, outras do azul, outras do verde, outras do rosa e outras de tantas outras cores…

Para mim não há só duas partes da mesma coisa.

Gosto de acreditar que Deus (?) fez mais do que isso, do que dividir as coisas em dois. Gosto de acreditar que essa tendência natural da divisão em duas partes é total e completamente nossa, condição humana.

Acredito que é uma maneira de racionalizarmos as coisas de modo a podermos simplificá-las e melhor apreendermos o mundo que nos rodeia. É uma tendência natural e inata do ser humano poder fazer o seu julgamento de forma rápida. E somos tão rápidos a julgar tudo e todos, que por vezes nos esquecemos que para lá do que vemos está o que é invisível aos olhos.

Não acredito na teoria das duas metades. Não acredito que só haja duas partes da mesma coisa.

Deus (?) não pode ter sido tão simplista…


Soprado por: Asa às 19:35
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Sábado, 4 de Março de 2006

Sono(s)

Asas.jpg

 

De que tamanho são as asas com que me envolves todas as noites antes de eu adormecer?


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