Segunda-feira, 29 de Maio de 2006

Morre lentamente...

 

 

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor.

Morre lentamente quem faz da tv o seu guru.

Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o preto sobre o branco e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções, justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorriso dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem destrói o seu amor próprio, quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante.

Morre lentamente quem abandona um projecto antes de iniciá-lo, não pergunta sobre o assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior do que o simples facto de respirar.

Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio esplêndido de felicidade.

Estejamos sempre vivos."

 

Pablo Neruda

  

A ouvir: RFM - Oceano Pacífico

Soprado por: Asa às 10:42
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Quarta-feira, 24 de Maio de 2006

Aconteceu...

Aconteceu…

Ninguém pediu para que fosse assim, mas a verdade é que aconteceu. Ninguém pediu para que as coisas sequer acontecessem, mas assim foi.

Um dia numa página em branco, que encontraste num dos teus passeios solitários e longínquos, dos quais nunca pude participar, resolveste escrever uma história. A nossa…

Tão poucas linhas, tão curtas palavras. Tantas reticências que colocaste nela. Será que algum dia ainda terá um final feliz? Será que algum dia escreverás o seu final? Será?

Sopras as aparas do lápis com que escreves essa história. As mesmas aparas com que me desenhas nas tantas noites que passas acordado ao meu lado. Nas tantas noites em que eu durmo despida, embrulhada no cobertor em frente da lareira que adoro. A mesma que me acendeste no dia em que me abriste a porta da tua casa. Nas mesmas noites em que não dormes porque pensas demais. Nesses momentos em que contemplas a beleza, que só tu vês, quando eu durmo e sonho com nós os dois.

Riscas e voltas a escrever. Risca mais umas coisas e rescreves uns rabiscos estranhos que não consigo perceber. Parece que desenhas quando escreves…

Mexo-me com o calor da lareira que fazes questão de manter acesa só para mim. Só a chama da nossa paixão é que resolveste apagar. Também escreveste a água com que apagaste esse lume? Ou essa é apenas as gotas de suor que produzimos nas noites cálidas e quentes que nos unem aos dois sozinhos. Nas noites em que acendemos um fogo, não na lareira, mas dentro de nós os dois. Nas mesmas noites em que o oxigénio não chega sequer para nós os dois, quanto mais para manter um outro fogo aceso.

Entrelaças as palavras e os desenhos. Também de vez em quando dedilhas a guitarra, tal como dedilhas o meu corpo nessas noites. Cantas para eu adormecer, tal como me fizeram há muitos anos atrás, quando não imaginava sequer o que era o mundo, quanto mais que havia nele pessoas como tu…

Talvez estivesse escrito, muito antes de tu escreveres esta história de nós os dois, que eu e tu seríamos um só em algumas noites das nossas vidas. Talvez estivesse escrito que essa história apenas tinha uma página, porque tu teimaste em não escrever mais nada.

Mas o que deveria ter sido escrito muito antes disso tudo é que o mundo teima em virar essa página, quer tu ou eu queiramos ou não…

 

A ouvir: Toranja - Fogo e Noite

Soprado por: Asa às 11:00
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Segunda-feira, 22 de Maio de 2006

É ele...

 

Encontra o rapaz que te chama gira, em vez de boa.

Que te volta a telefonar quando lhe desligas o telemóvel na cara.

Que fica acordado só para te ver dormir.

Espera pelo rapaz que te beija a testa.

Que te quer mostrar ao mundo inteiro.

Que fica de mãos dadas contigo em frente aos amigos.

Espera pelo rapaz que te está constantemente a lembrar do quanto és importante para ele, e de quanta sorte ele tem de te ter.

Espera pelo rapaz que se vira para os amigos e diz: “É Aquela!”

A ouvir: O canto do Mundo...

Quarta-feira, 17 de Maio de 2006

Mais um ritual que se cumpre...

Todos nós somos seres de rituais. Todos nós gostamos de uma espécie de rotina estranha, uma rotina que podemos designar de boa e como tal em vez de rotina, chamamos-lhe ritual.

Eu tenho um ritual que cumpro escrupulosamente todas as noites em conjunto com o meu vizinho da frente. Vizinho esse que desconheço, do qual não sei o nome e com o qual nunca troquei uma palavra sequer. Mas isso não nos impede de cumprir o nosso ritual.

Todas as noites depois de jantar, eu assomo à janela da minha sala para fumar o meu cigarro digestivo, e todas as noites quando venho à janela para fumar encontro o meu vizinho que vive na vivenda do outro lado da rua a passear na sua varanda. Enquanto eu puxo a nicotina e mais os inúmeros produtos tóxicos e viciantes que compõe o meu tão bem amado cigarro, o meu vizinho anda para trás e para frente na sua varanda a contemplar o céu e as estrelas.

É este o nosso ritual.

Todas as noites enquanto eu fumo, ele passeia na varanda.

Arrisco dizer que ele nunca me terá visto a fumar, mas eu vejo-o todas as noites na sua contemplação. E isso para mim tornou-se um ritual. Se um dia porventura ele não aparece no seu passeio eu fico a pensar que terá acontecido. Será que ficou doente? Já terá passeado mais cedo hoje? Estará muito frio para ele vir cá para fora? A esposa pediu-lhe para lhe fazer companhia? Tem os netos para adormecer? Não sei… Mas entristece-me se ele não cumpre o ritual comigo. Pode parecer uma estupidez, mas enquanto estou sozinha na minha janela a fumar, sinto-me acompanhada por ele. Sei que há mais alguém à mesma hora e no mesmo sítio a fazer o mesmo que eu, a contemplar a vida e o céu, e isso faz-me sentir menos só.

E hoje levou-me a pensar que todos nós cumprimos alguns rituais escrupulosamente no mesmo dia, ou à mesma hora. Por exemplo, todas as pessoas festejam o seu aniversário no dia em que nasceram. Os namorados festejam os aniversários de namoro e os casados de casamento. A maioria das mulheres toma a pílula à mesma hora do dia. Eu e a minha mãe falamos ao telemóvel todos os dias, enquanto que com o meu pai é dia sim, dia não. A minha família reúne-se aos Domingos para almoçar junta. Tantos e tantos rituais que fazemos questão de cumprir…

Porquê? Porque será que aquilo que gostamos chamamos ritual e aquilo que nos aborrece designamos de rotina? Não será exactamente a mesma coisa? A mim parece-me que a única diferença reside no facto de gostarmos ou não de fazer a mesma coisa, no mesmo dia ou na mesma hora. São os sentimentos e as emoções que mudam, a rotina é igual.

É como o facto de eu actualizar o blog à noite. É um ritual para mim escrever à noite, depois de jantar e antes de adormecer. Podia ser uma rotina, mas como é algo que me dá imenso prazer fazer, tornou-se num ritual.

Apenas a designação é diferente e por isso o meu conselho é (bem, isto é inédito! Eu a dar conselhos e ainda por cima no blog é mesmo algo digno de registo!) que transformem as vossas rotinas em rituais. Não precisam de mudar nada, excepto os sentimentos. Façam das vossas rotinas algo agradável que vos proporcione prazer, que vos permita ser um pouco mais felizes. E se não conseguirem, então mudem. Quebrem as rotinas, cortem os laços que vos prendem (isto lembra-me a música dos Toranja, cujo concerto fui ver na 5ª feira. A propósito, amei…) e cortem as amarras que vos aprisionam.

Não invistam o vosso tempo e a vossa energia a fazer algo que não gostam. Mudem, virem, sigam outro rumo, procurem um novo caminho. Só assim a vida vale a pena e só assim conseguiremos ser verdadeiramente felizes e realizarmo-nos como pessoas e como seres humanos.

A ouvir: Texas - Say what you want
Sinto-me:

Soprado por: Asa às 10:36
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Terça-feira, 16 de Maio de 2006

Meio ano de vida

O meu blog faz 6 meses de vida. E como meio ano de vida desta escrita em forma de crónica que pretende ser mais um grito no silêncio das almas que me acompanham, ainda é um facto notável na sociedade em que vivo, não podia deixar de assinalar este facto na minha vida e na vida deste blog.

E além disso, já conta mais de 200 visitas neste pouco mais de um mês em que eu descobri como inserir um contador neste cantinho.

Como me falta a inspiração para mais, é só mesmo para assinalar este facto e agradecer a todos aqueles que me lêem e comentam aquilo que escrevo. Obrigada pelo apoio e carinho que demonstram 

P.S. Brevemente regressarei com mais uma pena nesta asa.

Sinto-me:
A ouvir: Música nenhuma

Soprado por: Asa às 17:00
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Terça-feira, 2 de Maio de 2006

Um diálogo não são dois monólogos...

 

Pois é Diogo! Mais uma viagem que faço à tua procura no interior de mim mesma. Mais um rumo que traço às cegas. Perdi a bússola do meu barco. Quebrei o astrolábio que alguém me ofereceu. Destruí o mapa que me ofereceste no dia em que me pediste para te seguir.

Perdi-me nas ruínas da alma que não soube nunca encontrar. Nas ruínas que não tive coragem de explorar pelo medo que acumulei ao longo de todos estes anos. Nunca me encontrei ao teu lado, quer física, quer espiritualmente. Nunca vislumbrei sequer a cor da tua aura.

Houve alguém que me ensinou muita coisa na vida. Houve alguém que nasceu muitos anos antes de mim e de ti e que me ensinou a acreditar nos sinais da vida. Alguém que tinha o guerreiro da luz mais forte   que conheci até hoje. Alguém que estava destinado a fazer parte dos meus antepassados. Alguém que perdi sem saber como nem porquê e que ficou com muitas histórias por contar.

E por isso, hoje quero contar-te esta história. A história de esse alguém, a minha avó, que nasceu com o destino escrito a brasas na palma da mão esquerda. Com um destino que nunca consegui desvendar. Ainda hoje quando olho para trás, e recordo as linhas curvas que a sua mão tinha bem marcadas, não consigo perceber o que elas queriam dizer.

Foi a minha avó que me ensinou a ter coragem para enfrentar o mundo sempre de frente e de cabeça bem erguida. Que me ensinou o significado da palavra fé. Não no seu sentido restrito à religiosidade, mas no sentido lato da vida. Fé de acreditar na vida, no destino e em tudo o que desejamos de bom do fundo da nossa alma.

Como tenho saudades do consolo dos braços da minha avó. Daqueles braços magros e frágeis, cansados pelos muitos anos de lavoura, mas que estavam sempre abertos para me abraçar. A minha avó não era uma pessoa extraordinariamente ternurenta e afectuosa, mas sabia sempre quando eu precisava de um consolo dos seus braços que sempre me protegeram.

Primeiro em bebé, que me embalaram e alimentaram, depois em criança que me ajudaram a atravessar as poldras dos rios e mais tarde, na adolescência que me acolhiam para chorar os desgostos do coração e da alma.

Sempre me fascinei pela capacidade empreendedora e lutadora da minha avó. Sempre me fascinei pela sua lama de lutadora, que não desistia nunca, fossem quais fossem as atribulações que a vida lhe reservava. Sempre me fascinei principalmente pela sua capacidade de não desistir nunca e perseguir todos os seus objectivos.

Como sinto a sua falta, ao longo destes longos 3 anos em que não tem estado fisicamente ao meu lado…

Foi também ela que me ensinou as regras básicas dos mistérios da vida. E foi ainda, ela que me ensinou que um diálogo não é, nem pode ser, apenas um conjunto de dois monólogos.

E o nosso tem sido apenas isso. Dois monólogos, que em conjunto tentam ser um diálogo.

É por isso que te digo, Diogo, um diálogo não são dois monólogos. E nós nunca o tivemos. Dançámos juntos algumas vezes, e continuamos a dançar, mas mesmo assim, nunca ouvimos, nem ouviremos a Alma do Mundo só os dois.

A ouvir: O canto dos passarinhos por cima da minha janela
Sinto-me:

Soprado por: Asa às 15:53
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