Como de costume, tenho pensado bastante sobre este tema, antes de me atrever a dar uma opinião sobre o assunto.
Podem pensar que é sobre incineração ou co-incineração, lixeiras ou coisas que tais, mas não andam longe da verdade. O tema são os depósitos, não de dinheiro mas de pessoas.
Na sociedade moderna em que vivemos, resolvemos criar depósitos para aqueles que não cabem nas nossas vidas. Podiam ser depósitos de memória, para aqueles que não têm espaço pudessem ficar armazenados e pudéssemos recordá-los quando sentíssemos saudades. Mas não. Criamos depósitos de pessoas reais, locais onde as depositamos quando estamos fartos de as aturar.
Criamos lares de idosos, hospitais psiquiátricos, centros de dia, ATL’s, jardins-de-infância, colégios internos, tutorias, centros de reabilitação, prisões e sei lá que mais…
Criamos sítios, onde depositamos as pessoas que não nos interessa manter na nossa vida. Não importa se são nossos pais, filhos, amigos, familiares, esposas, maridos ou irmãos. O que importa mesmo é que não as queremos nas nossas vidas e por isso, estamos dispostos a pagar um preço, por vezes bastante elevado, para que completos desconhecidos os mantenham vivos enquanto a chama da vida os mantiver.
Não sou contra a existência de alguns desses sítios. Não sou contra o facto de algumas pessoas não terem qualquer hipótese de poderem auxiliar essa outra. Não sou contra os empregos que se mantêm. Não sou contra o pagamento dos actos e o conceito de justiça. Sou é contra fazermos disso uma rotina habitual.
Custa-me ver pessoas idosas que sempre amaram os filhos despejadas nos depósitos de idosos. Custa-me ver crianças de um ou dois anos despejadas em depósitos infantis até que os pais acabem a sua vida social e se lembrem que eles estão lá. Custa-me ver pessoas deprimidas despejadas em depósitos psiquiátricos sem o apoio mais necessário. Custa-me ver pessoas diferentes despejadas em depósitos de deficientes, como se fosse um mal a esconder. Custa-me ver crianças com inúmeros problemas de vida e de adaptação social despejadas em depósitos de delinquentes, sem que alguém se interesse pela sua natureza de ser humano. Custa-me ver pessoas desepejadas nos depósitos de criminosos, sem que alguém tente perceber o que aconteceu e quais as hipóteses de recuperarem uma vida normal.
Custa-me viver nesta sociedade que teima em criar depósitos para aqueles que sofrem de algo diferente. Para aqueles que não quiseram ou não souberam adaptar-se à condição de normal que a sociedade lhes impôs.
Fazemos dos depósitos uma forma alternativa de vida, sem as mínimas condições de alguma vez o poderem ser. Fazemos destes depósitos um armazém daquilo que não nos interessa ter na nossa vida. Criamos depósitos de pessoas...
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