Todos nós somos seres de rituais. Todos nós gostamos de uma espécie de rotina estranha, uma rotina que podemos designar de boa e como tal em vez de rotina, chamamos-lhe ritual.
Eu tenho um ritual que cumpro escrupulosamente todas as noites em conjunto com o meu vizinho da frente. Vizinho esse que desconheço, do qual não sei o nome e com o qual nunca troquei uma palavra sequer. Mas isso não nos impede de cumprir o nosso ritual.
Todas as noites depois de jantar, eu assomo à janela da minha sala para fumar o meu cigarro digestivo, e todas as noites quando venho à janela para fumar encontro o meu vizinho que vive na vivenda do outro lado da rua a passear na sua varanda. Enquanto eu puxo a nicotina e mais os inúmeros produtos tóxicos e viciantes que compõe o meu tão bem amado cigarro, o meu vizinho anda para trás e para frente na sua varanda a contemplar o céu e as estrelas.
É este o nosso ritual.
Todas as noites enquanto eu fumo, ele passeia na varanda.
Arrisco dizer que ele nunca me terá visto a fumar, mas eu vejo-o todas as noites na sua contemplação. E isso para mim tornou-se um ritual. Se um dia porventura ele não aparece no seu passeio eu fico a pensar que terá acontecido. Será que ficou doente? Já terá passeado mais cedo hoje? Estará muito frio para ele vir cá para fora? A esposa pediu-lhe para lhe fazer companhia? Tem os netos para adormecer? Não sei… Mas entristece-me se ele não cumpre o ritual comigo. Pode parecer uma estupidez, mas enquanto estou sozinha na minha janela a fumar, sinto-me acompanhada por ele. Sei que há mais alguém à mesma hora e no mesmo sítio a fazer o mesmo que eu, a contemplar a vida e o céu, e isso faz-me sentir menos só.
E hoje levou-me a pensar que todos nós cumprimos alguns rituais escrupulosamente no mesmo dia, ou à mesma hora. Por exemplo, todas as pessoas festejam o seu aniversário no dia em que nasceram. Os namorados festejam os aniversários de namoro e os casados de casamento. A maioria das mulheres toma a pílula à mesma hora do dia. Eu e a minha mãe falamos ao telemóvel todos os dias, enquanto que com o meu pai é dia sim, dia não. A minha família reúne-se aos Domingos para almoçar junta. Tantos e tantos rituais que fazemos questão de cumprir…
Porquê? Porque será que aquilo que gostamos chamamos ritual e aquilo que nos aborrece designamos de rotina? Não será exactamente a mesma coisa? A mim parece-me que a única diferença reside no facto de gostarmos ou não de fazer a mesma coisa, no mesmo dia ou na mesma hora. São os sentimentos e as emoções que mudam, a rotina é igual.
É como o facto de eu actualizar o blog à noite. É um ritual para mim escrever à noite, depois de jantar e antes de adormecer. Podia ser uma rotina, mas como é algo que me dá imenso prazer fazer, tornou-se num ritual.
Apenas a designação é diferente e por isso o meu conselho é (bem, isto é inédito! Eu a dar conselhos e ainda por cima no blog é mesmo algo digno de registo!) que transformem as vossas rotinas
Não invistam o vosso tempo e a vossa energia a fazer algo que não gostam. Mudem, virem, sigam outro rumo, procurem um novo caminho. Só assim a vida vale a pena e só assim conseguiremos ser verdadeiramente felizes e realizarmo-nos como pessoas e como seres humanos.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.